quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Diário: quinta

3ºDIA

Foi o período mais esperado por mim e de certa maneira, o mais difícil. Ontem a noite quando cheguei na Galeria, louca pra descansar, ver um filme, ler, estava começando uma reunião que se prolongou por umas duas horas. serious stuff: o pessoal que fez a proposta inicial do projeto está preocupado. Acham que a residência esta gerando poucos resultados artísticos, se transformou mais numa vivência comunitária, e que o espaço está muito confuso visualmente. Isso gerou uma série de discussões onde só tive coragem de me colocar no final. Fiquei surpresa com o descompasso de expectativas. Eu não havia entendido que haveria uma preocupação com mostrar um
"resultado final" da residência para o público. A criação dos espaços individuais e coletivos, e a vivência compartilhada dentro desses habitats já são um resultado artístico em si. A gente está vivendo dentro de uma galeria de arte!O resultado até pode parecer o mesmo de visitar um Centro Acadêmico mas não é o mesmo, por princípio. Além disso, somos 25 artistas, com temperamentos completamente diferentes, confinados por apenas UMA semana num espaço comum, onde não existe diferença entre o espaço de habitar e o de produzir, e onde o tempo que cada um passa lá é totalmente variável. Acho que o resultado da residência/convivência vai se refletir no trabalho de todos nós, mas no tempo de cada um. De qualquer forma, a discussão gerou uma tensão, acionou a lampadinha da obrigação compulsória, que no meu caso, é tudo que eu não queria.

Apesar do cansaço das noites mal-dormidas, depois da reunião fiquei bebendo cerveja do lado de fora da Galeria até as três e meia da manhã, aproveitando para conversar, já que normalmente tenho saído cedo e voltado só a noite. Estranhamente, dormi muito melhor que nas outras noites. Mapeados os problemas, dureza da cama, frio e mosquitos, pelo menos os dois últimos eu acho que solucionei. Nem precisei do tarja preta. Acordei atrasada para a aula que eu queria assistir do Maravalhas, mas fui assim mesmo. Foi emoção/comoção caminhar pelo campus. Tirei algumas fotos do Dept de Arte. Nostalgia pura. A aula foi ótima, slides, discussões, leituras, pausa para o cafézinho, livros, e troca de figurinhas com a Waleska.

De volta à Galeria, sai só para almoçar (no Careca), e confesso que o resto da tarde foi muito improdutivo. É muito quente dentro da Galeria, e difícil de se concentrar, muita gente a volta. Pela primeira vez me senti inquieta de estar lá. Mas um banho de mangueira/banheira me renovou. Assisti um documentário sobre um jornalista independente, morto o ano passado em Oaxaca, primeira atividade do nosso ChillOut, no subsolo, e finalmente, consegui sentar para trabalhar, cinco horas da tarde. Mais tarde apareceu a Jussara para visitar. É bom receber visita dos amigos, falar sobre a residência, sobre os outros artistas, sobre arte. Acho que ela gostou.

Agora são quase meia-noite e ainda estou em casa, terminando de escrever e de baixar as fotos para o blog. Vou tomar um banho, pegar o violão e alguns catálogos do meu trabalho pra mostrar para o Denilson, o artista que veio da Bahia para fazer a residência, e voltar para dormir na Galeria. Com o sapo.

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